terça-feira, 6 de setembro de 2011

Catequese

Um dos elementos utilizado na conquista dos povos latinos pelos ibéricos católicos foi a dominação cultural. Seus agentes realizaram tal obra com esmero e competência, os Jesuítas, tiveram importância estratégica no lidar com as populações indígenas. Diferente do tratamento usual dado pelos colonizadores (violência e escravidão) os jesuítas incluiam um elemento humanitário na relação e consideravam sua missão levar a "luz de deus" para esses povos através da catequese. Instalando um regime hierárquico porém com alguma qualidade de vida material e inclusão simbólica. Isso não deixa de ser progressista num contexto onde a igreja debatia se índios eram ou não possuidores de alma.

Realmente não duvido que fossem homens de fé.

Porém isso não muda (pra mim) seu papel político. Pois, através do inculcamento dos valores católicos nos indígenas, os inseriu numa sociedade de uma profundamente desigual hierarquia e fizeram com que esses perdessem sua cultura, sua sabedoria, seus modos desenvolvidos numa experiência social milenar nessas terras. Claro que a dinâmica da vida permitiu que parte dessa cultura se mantivesse através do sincretismo (sábio truque simbólico dos povos excluidos), e outras formas dinâmicas de interação cultural. Os próprios jesuítas incentivavam tal empresa híbrida, por um lado entendendo que ao mesclar elementos da cultura indígena naquele neo-catolicismo americano, estariam criando laços mais fortes e duradouros, e por outro, reconhecendo parcialmente o conhecimento indígena sobre o território e seus usos.

A dominação cultural continua sendo um mecanismo utilizado no jogo político das sociedades, e quantos catequisadores! Um tanto de gente querendo ensinar o "caminho certo" e se beneficiando nesse processo. Fazendo a equação política de transformar o interesse A (pessoal) em interesse B (social) e utilizando as forças sociais para projetos pessoais de poder, convencendo de que isto é o caminho do "progresso". E pastores e padres, entre outros, fazem o malabarismo de manter a dominação baseada na "magia" no oculto, em um deus abstrato e maleável...fazer isso em tempos da rainha ciência e do rei método é certamente surpreendente.

Assim mantém-se padres da magia, da ciência, do desenvolvimento...todos advogando por uma causa própria em nome de todos, mas quem realmente se beneficia com isso?

Um comentário:

  1. Não reconhecer a autonomia alheia e impedir o próximo de legitamá-la é para mim uma violência. Se não física, psicológica. E uma violência psicológica pode trazer danos ainda maiores que a física.

    Também não desacredito da fé desses homens, ou pelo menos não considero que todos eram completamente hipócritas.

    Mas tenho dúvidas se a Ciência e o Método, ainda reinam no nosso tempo absolutas: "O projeto teológico pós-moderno é reafirmar a verdade de Deus sem abandonar os poderes da razão" (assim disse David Harvey em 'Condição Pós-Moderna').

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