quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Milagre dos peixes (ou BRASIX)

Na época em que nosso país era dominado pela ditadura militar, um dos cerceamentos impostos pelo governo era o do pensamento, a censura vigorava forte e não se podia criticar aquela realidade com riscos de ser tratado como um "traidor da pátria". Tom Zé já tratava disso na clássica "menina amanhã de manhã" do também clássico disco "estudando o samba", ele dizia sobre a felicidade imposta pelos militares "Menina, ela mete medo menina, ela fecha a roda menina, não tem saída de cima, de banda ou de lado. Menina, olhe pra frente menina, todo cuidado não queira dormir no ponto segure o jogo atenção" ou seja ser feliz era obrigação civil que quando desrespeitada gerava punições.

Os discurso oficiais se baseavam muito na perspectiva "desenvolvimentista" do governo militar que delirava em sonhos de grandeza e industrialização do país. A própria definição do que é desenvolvimento e suas possibilidades dariam livros e livros..no entanto aqui só quero lembrar que existem outras lógicas e percepções do que seja desenvolvimento além da vertente industrializante.

Existiam no país pessoas que discordavam desta tal postura, do sonho do "milagre econômico" que discordavam em relação a industrialização e a urbanização como sendo as chaves para o futuro desta terra. Uma destas pessoas era Milton Nascimento que gravou um lindo álbum, que, extremamente crítico, foi censurado. Este álbum se chamava Milagre dos Peixes (1973).

Ao ter 8 das 11 letras vetadas, Milton criou um artifício prodigioso, que mudaria sua carreira. Decidiu gravar todas as músicas, usando sua voz como um instrumento nas faixas que haviam sido censuradas.

Curiosamente uma das músicas mais críticas (Milagre dos Peixes) não foi censurada, alguns creditam isso a uma burrice da censura , outras acham que a critica era tão profunda que passou desapercebida pelos censores que cortaram "Escravos de Jó" essa sim, obviamente crítica ao regime. Na música título do álbum Milton critica o sonho do desenvolvimentismo industrial contrapondo a este o "milagre dos peixes". Defende assim a riqueza da natureza como a maior de todas e a necessidade de se preservá-la.

Andando 40 anos na história brasileira vemos os ecos angustiantes de Milton soarem novamente, o mito do desenvolvimento voltou com força ao Brasil. O empresário Eike Batista representa bem o mito renovado do desenvolvimento industrial. Ele, que, filho de ministro do governo milico, sonha em ser o homem mais rico do mundo através do comércio de nossas riquezas naturais. Mas... qual seu objetivo com isso? Não sei. Mas não em espantaria em ver ele se candidatando a presidente e propondo a mudança do nome do país para BRASIX, como se sabe o garoto rico tem a superstição de colocar X no fim do nome de todas suas empresas, acreditando que assim os lucros irão se multiplicar.

Queremos um país de números impactantes ou um país que proporcione qualidade de vida para seus habitantes? Independente da resposta, estamos diante de diferentes projetos de nação, que não são totalmente conciliáveis, na minha opnião. O imperativo do lucro não divide o pódio com ninguém, difícil pensar que este consideraria a natureza ou as pessoas.

A maior riqueza de um país é seu povo e sua terra, mas se continuarem abrindo buracos em todo o lado, poluindo todas as águas, tentando transformar tudo num inferno urbano, o que restará a nós que continuaremos habitando este território (diferente de empresas mineradoras p exemplo)? Qual será o preço que estamos colocando na conta do futuro? Teremos um milagre dos peixes ou econômico?

4 comentários:

  1. E fazendo assim construiremos nosso mundo ou o nosso próprio umbigo?

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  2. Rapaz, certamente é uma questão...mas talvez a resposta de uma seja a outra também. Talvez construir nossa casa da melhor maneira seja um dos melhores jeitos de contribuir para a construção de nossa grande casa planetária...

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  3. Aparentemente, economicamente não temos muitos problemas, somos a sétima potencia econômica do mundo, nosso PIB aumenta ano apos ano maravilhosamente. O problema é que mesmo assim ainda falta "peixes" na mesa dos milhares de brasileiros miseráveis, que são criminosamente deixados de lado nas pesquisas que nos fazem a "sétima potencia econômica" do MUNDO. Nós,a "sétima potencia econômica" do mundo, provemos metade de nosso PIB a divida publica, ou seja, metade de nossas riquezas saem para pagar os títulos da Republica, que por acaso esta com mega empresários, como o nosso caro Eike Batista, e mega banqueiros. O milagre existe, somos ricos como nação, o problema é que somos uma nação neo-liberal e que por isso os nossos "peixes" multiplicados acabam indo para o capital privado e estrangeiro, enquanto isso a Educação, por exemplo, recebe um corte de 3,1 bilhões, o que a deixa num confortabilíssimo patamar de menos de 3% do nosso PIB. O milagre ta ai, falta ser distribuído... por bem ou por mal.

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  4. Essa lógica neo-liberal implica também (em nosso contexto) um tipo de modelo produtivo que agride o meio ambiente, degradando a qualidade de vida para todas as espécies envolvidas. O crescimento "milagroso" do PIB tem seu custo social e ambiental, alem de "dividir os peixes", temos que lembrar qual é o custo do supercrescimento, o outro lado da moeda da geração de riqueza...

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