quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Gênio Coletivo

A história clássica é chamada de "história dos vultos" por enfocar os indivíduos marcantes como reflexo de uma época, como se a história se desenrolasse apenas pelos grandes personagens, reis, lords, papas (aqui no brasil muitos coronéis) e outras figuras notórias. Hoje essa abordagem é considerada ultrapassada em relação a outra visão chamada de "história social", que enfoca os diversos grupos de uma sociedade e seus movimentos políticos como motor da história.Uma abordagem mais abrangente, portanto.

Essa perspectiva clássica da história reflete também um valor aceito quase totalmente no ocidente, o valor do indivíduo, do mérito pessoal, do gênio. As pessoas costumam adorar biografias grandiosas, histórias particulares de sucesso, o "self-made man" estadounidense. Essa última definição explicita bem o caráter enganoso de tal valor.

Nem o estadounidense nem nenhum outro humano se faz sozinho. Fato constatado em diversos tipos de conhecimento, desde a religião até a ciência: biologia (em especial a ecologia), sociologia e até a física quântica postulam a conexão visceral entre os seres.

Além de não vivermos nem construirmo-nos sozinhos, o fazemos melhor quando reforçamos tais laços.

A tecnologia social e ambiental (dedicada a trabalhar sobre tais laços como fonte de riqueza de vida) ainda tem muito a oferecer, mas não é alvo de interesse científico/econômico. Existe toda uma cosmovisão que caminha na direção contrária e defende o individualismo e a competição como motores de uma sociedade, além de definir-los como valores em si.

Mas repito, não há gênio competidor e individualista que concorra contra o grande gênio coletivo.

Um exemplo disso foi a recente pesquisa publicada na Nature Structural & Molecular Biology que mostra que uma pesquisa de modelagem de uma proteína que vinha sendo desenvolvida durante uma década por cientistas de instituições privadas não conseguiu o resultado que gamers conseguiram em 3 semanas. Explica-se: foi criado um jogo on-line onde os jogadores podiam modelar uma proteína. O programa indicava quando se chegava a uma modelagem possível, e em 3 semanas esses jogadores fizeram o que cientistas de um grupo fechado (capitaneados por algum individuo que levaria a maior parte dos créditos pela pesquisa) não conseguiram em uma década. Essa pesquisa se relaciona a busca pela cura da AIDS, tema sério.

A internet muitas vezes tem sido motor para tais interações: primavera árabe, wikileaks, ficha limpa, entre outras criações coletivas que vem mostrando sua força e importância.

Quando penso nessas coisas penso também: ainda faz sentido a lógica do copyright? A quem ela beneficia? Quem pode deter o gênio coletivo?

3 comentários:

  1. Massa esse lance da modelagem da proteína. Tem uma galera correndo na contramão, fazendo projetos abertos e colaboraivos de artefatos industriais. Estava comentando sobre isso hoje e acho que esse caminho poderá nos levar para uma real revolução socialista.

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  2. Enquanto isto os bretões tentam cercear a internet e a bancada nacional brasileira ilegalizar os downloads.

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  3. ¬¬
    Ps: fala aí, vc queria estar entre os gamers, né!... Seeei... te conheço! hahaha...
    A gente te arranja algo parecido...
    Dps que vc superar aquela fase que ficou gravada aki, claro... hahaha...

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