terça-feira, 30 de agosto de 2011

Democracia de quem?

Democracia. Palavra chave nos discursos do mundo ocidental contemporâneo, as antigas orientações políticas "de esquerda" e "de direita" hoje se aninham sob as mesmas asas do discurso "democrático". Palavra que hoje significa muitas coisas, pode-se usá-la como argumentos pró e contra em qualquer tema de discussão pública.

A polaridade dos sentidos desse termo que aqui se ressalta , é a que envolve os eventos ocorridos no norte da áfrica e na inglaterra. No primeiro caso na chamada "primavera árabe" as redes sociais foram largamente utilizadas para incrementar a organização dos jovens manifestantes e quando os governos locais insinuaram bloquear tais canais a chamada "comunidade internacional" reprovou prontamente tal medida "anti-democrática".

Pouco tempo depois começam a ocorrer os chamados "riots ingleses" que se configuram com algumas caracteristicas em comum , jovens insatisfeitos com as condições vigentes em sua sociedade, desejosos de um futuro mais promissor (seja num sentido político ou numa inclusão consumista) que utilizam as redes sociais como meio de organização. A questão aqui não é contudo, discutir se os dois fenômenos são parecidos, mas sim discutir qual a postura dos governos em relação a essas instabilidades sociais.

Qual foi a postura do "liberal" e "democrático" governo inglês? O mesmíssimo projeto de censura às redes sociais utilizadas pelos jovens...aqui defendida como um resguardo a democracia inglesa.

Kadafi e outros governantes devem estar pensando:democracia nos olhos dos outros é refresco!

Claro, aqui não se pretende apoiar o chamado ditador Kadafi, mas sim expor o sentido dúbio e maleável que o termo democracia pode ter, se democracia é um ponto comum, talvez a questão agora seja, "que tipo de democracia queremos?" ou ainda "democracia de quem? pra quem?"...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cultura popular x Cultura erudita

O binômio cultura popular x cultura erudita é uma tensão muito presente em discussões acadêmicas que estudam a cultura, quem são esses extratos sociais (erudito e popular)? Qual o significado dessa divisão? Existe intercâmbio entre elas? De que tipo?

Só alguns exemplos do rol de perguntas que se apresentam em geral.

Crescentemente tem se falado em termos como "descentramento do sujeito", e da desconstrução das identidades nacionais, dentre outras. Não conheço nenhum trabalho de acadêmico que fale desses processos em relação as tais cultura popular e erudita. Pessoalmente acho (sensação/intuição mesmo) que são termos em decadência, sobretudo devido a circulação abundante da informação (muitas vezes mal usada inclusive).

Mas uma coisa eu sei sobre isso, quando eu vi esse moleque fazendo o que ele faz, vi que ele ensina na prática, como é possivel se mover entre esses dois conceitos "quadrados" da teoria cultural. Vira-lata típico, no melhor sentido da palavra. Adaptando-se e criando num quadro social bem desfavorável, usando o "outro" como adubo, usando si mesmo como cimento. Da periferia de são paulo, sem pai, sem grana, pega a cultura clássica, a mastiga e regurgita sua própria interpretação, mais um antropófago nativo.
O programa é toscão e tal, uma das milhões de versões do programa americano "American Idol", chamado "Se ela dança eu danço" do SBT. O garoto John Lennon da Silva a princípio é inquirido sobre suas roupas e sobre sua consciência a respeito da obra que iria interpretar. Do descrédito à surpresa, ele deixa os jurados de cara com sua invenção, juntando dança de rua e dança clássica num improvável novo híbrido.

Saca só: http://www.youtube.com/watch?v=MceKWv9V-Yw

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Folia-de-reis: contradições em dinâmica

Ocorreu no último sábado (20/08) o 61° festival nacional de folia de reis em Muqui/ES. Essa manifestação é uma tradição cultural presente em muitos territórios país afora, e sua dinâmica se dá em dois sentidos complementares e dialéticos. Por um lado, a diversidade de grupos presentes é linda, e se reflete nas diversas cores e tipos de indumentárias, além disso... quantas etnias! Coisa linda ver tanta gente diferente sob uma mesma bandeira e participando de um evento onde não existem vencedores e perdedores (todos são premiados por participar). Esse tipo de manifestação dá força a tal idéia de democracia racial, que aqui deixa de ser somente mito de conservação do status quo para ser também uma prática e uma cultura com potencial solidário e agregador. Isso é fruto da organização dos grupos e também da estratégia da política cultural do estado do Espírito Santo.

O papel do estado abre outra gama de aspectos desse fenômeno, que explicitam a lógica do tipo de desenvolvimento que se dá em nosso país.

 Ali estavam presentes aspectos autoritários e amadores da política pública (como o secretário estadual de cultura querendo definir como deviam ser as fantasias e músicas dos grupos..) que denunciam também a condição periférica desses grupos em relação a sociedade cresecentemente tecnológica que exclui aqueles que não compartilham dos mesmos desejos e valores, são vistos como uma espécie de "zoológico do passado", destinados a permanecer nas mesmas condições sociais e culturais de outrora. Assim como os índios foram expostos como bichos pelos franceses no passado, há algo que não cheira bem na tradição folclorista hegemônica..afinal, qual o projeto em relação a estes grupos? Liberdade de escolha ou permanência cultural forçada? Auxiliar seus projetos próprios ou faze-los se inserir nos projetos hegemonicos? Ainda bem que a dinâmica da vida é mais forte que qualquer lei social e as coisas se transformam invariavelmente, curiosamente a unica lei onipresente é justamente a lei da transformação da vida....

Esse é um assunto para um sem-número de teses acadêmicas (e outros tipos de tese também) e jamais seria esgotado nesse breve post. No entanto vale o registro do evento em toda sua contradição dialética.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Quem são os jovens que protestam na inglaterra?

Curiosamente, achei esse vídeo sobre os fatos recentes em Inglaterra, sobre o contexto e os participantes desses tais fatos. Tem um post sobre isso um pouco abaixo deste, e aqui, uma entrevista da Globo News:

http://www.youtube.com/watch?v=HI1YSPHVeIA&feature=player_embedded

Do jeito que a coisa anda na Globo News por sinal, vão parar de fazer entrevistas ao vivo! As pessoas expressam suas opniões reais e isso parece não ir de encontro a política de "tele-apatia" que vigora nessa organização midiática, que não preza muito o debate plural de ideias, ainda trabalha em mono, só um canal, só uma idéia, só um posicionamento. Essa outra entrevista aqui já virou lenda, especialista que não concorda com repórter vira persona non-grata:

http://www.youtube.com/watch?v=nWDEnJOTB7A&playnext=1&list=PL83F53A7D9B0180F6

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Mega-eventos: quem paga a conta?

Link pra matéria do Centro de Mídia Independente que discute a questão urbana em relação aos mega-eventos.

http://prod.midiaindependente.org/pt/red/2011/07/494345.shtml


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cosmopolitan

Tem uma moda que eu acho engraçada, na verdade nem é somente moda, nem é de hoje. Mas o que eu tô falando é aquela moda de achar bonito tudo que é de fora do Brasil e o inverso proporcional, achar que tudo que é daqui é ruim. Muitos fatores contribuem a essa situação, fatores históricos, políticos e tecnológicos em especial.

A condição de colônia por tanto tempo criou uma relação servil em relação as metrópoles, de tanto cantarem que éramos feios, burros e desorganizados, aprendemos a acreditar, reforçar e viver tal sentença de vida tão "imutável", um destino imputado por papas e reis e depois reafirmado por cientistas e políticos. O passado escravocrata é parte importante nesse processo também, apesar de tentarem apagar as marcas dessa instituição cruel, esse passado existe e foi fartamente documentado por historiadores. Esses fatores elencados são todos relativos ao passado, ao processo histórico da colonização, pouco pode ser feito em relação a este, a não ser pesquisar os murmúrios apagados da história e dar-lhes voz.

Um dos fatores que, no entanto,  é relativo ao presente e potencialmente transformável, diz respeito a cultura, aos hábitos.

Na década de 70, os roqueiros do Placa Luminosa já advertiam com a música "i can't sing in portuguese" os caminhos que tomavam os hábitos culturais de nossa juventude. A indústria cultural que "educa" nossas mentes há decadas nos cria um laço quase afetivo com a língua e os costumes estadounidenses. Isso inclusive pode (e foi) usado a nosso favor, a antropofagia proposta pelo modernismo brasileiro propõem essa aliança, utilizar a cultura alheia para construir a nossa própria, misturar para conquistar, invertendo o dito militar romano (dividir para conquistar).

Essa estratégia é ousada, não sendo fácil sua execução. Parece que "escolhemos" privilegiar o primeiro passo (absorver a cultura alheia) em detrimento do segundo (construir sua própria cultura). Lembrando também que essa relação não é uma escadinha  evolutiva, e sim, processos paralelos e retro-alimentares, ou seja, em dinâmica contínua.

Existe uma idéia forte de que o sentimento cosmopolita é arrojado e vanguardista.. mas se ele vem separado de uma identidade própria, me soa como uma espécie de cópia pálida, sem "fundo", como as bolsas econômicas lastredas por crédito inexistente. Viver com a cabeça em Paris com a realidade de São Gonçalo, uma existência fantasmagórica. Nada contra o município fluminense nem a favor da cidade das luzes, mas é óbvio que são realidades diferentes. Sei que isso soa anacrônico em tempos globais, mas gosto da idéia de pensar com pés no  chão, e seguir o conselho de Fernando Pessoa, tentando equilibrar eu e o outro, o brasil e o mundo, o real e o abstrato e todas os binarismos que aprendemos a enxergar. O velho poeta português dizia: "Se queres ser universal, canta tua aldeia!".

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Bíblia de neón

O livro mais lido no mundo é a bíblia, nunca houve um livro tão polêmico, até hoje acaloradas discussões são geradas tendo ele como pano de fundo . Isso ainda pode ser visto positivamente levando em conta os abusos feitos pelos católicos (uma das religiões que consideram esse livro sagrado), como por exemplo, na inquisição.

A bíblia mantém estruturas narrativas ainda correspondentes ao nosso mundo, talvez mesmo por termos sido muito influenciados por ela, mesmo quem nunca a leu. Ela está dispersa na cultura geral, na sociedade como um todo. Paralelamente a essa continuidade temos também uma ruptura, uma sensação de descompasso em relação a esse livro e aos valores que ele discute.Alguns chamam esses descompassos em relação a este livro de "fim-dos-tempos", eu concordo e discordo, Concordo por acreditar que os valores solidários que (na minha opnião, claro) são a parte mais relevante e universal da bíblia de fato são importantes e andam em baixa. Discordo por entender que de fato um livro escrito a tanto tempo, tende a gradativamente perder parte de seu significado, ou ao menos preenche-lo de novos significados.

A bíblia de neón, os novos deuses e sacerdotes embuidos da aura sagrada da ciência representam um pouco esse caráter do sagrado e do salvacionismo nos novos tempos.Mas falando da bíblia antiga, achei muito ponderada a fala desse cara aqui, identifico como uma continuidade que considero importante. Ligada a solidariedade e igualdade, valores bacanas.

"E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará". (Mateus 24:12)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

#systemfail


Quando ocorre uma enchente em sua cidade, quem você responsabiliza pela água que transborda e invade casas e ruas? O sistema de escoamento? a administração pública? a má educação dos que entopem bueiros? O regime das águas?!

Nosso mundo é de uma complexidade imensa, e todos os fatos estão de certa maneira relacionados, alguns em maior ou menor medida. Devemos sempre ter o cuidado ao analisar os fatos, ter muito cuidado com as armadilhas da razão e da lógica. Pois explicações lógicas e racionais são fáceis de se elaborar, mas são também frágeis em se sustentar, difícil mesmo é criar uma argumentação complexa. Por complexa entende-se uma argumentação que leve em conta os diversos fatores em constante interação na vida. A história e a ecologia nos ajudam muito nessa missão, uma ajudando entender o campo temporal mais amplo onde estão inseridos os processos, e a outra nos auxiliando a entender a ligação visceral e dinâmica que temos com nosso entorno.

Voltando ao exemplo da enchente, em geral esse problema se dá na interseção de vários outros, como 1)a dinâmica do mercado imobiliário que joga populações pobres para áreas de risco, 2)a conveniência do poder público que se interessa sobretudo em números interessantes para a economia, nem que seja ao custo de tragédias de vidas humanas 3)um modelo educacional que não consegue passar a noção de educação ambiental, que não consegue fazer as pessoas entenderem que tudo é ligado, que lixo na rua vira lixo em casa, vira lixo humano 4) o modelo produtivo que gera desequilíbrios ambientais profundos que alteram a temporalidade cíclica da natureza. Esses são alguns dos motivos, poderíamos elencar outros, mas estes são suficientes para se entender a densidade da trama que envolve uma “simples” enchente.

Isso tudo foi dito para discutir o simplismo preconceituoso que vem dominando a lógica de certos setores das sociedades mundo afora, o simplismo que olhando só por uma lente encontra “culpados” para qualquer situação rapidamente, curiosamente, os culpados sempre são “os diferentes”, “o outro” antropológico. Para os “verdadeiros paulistas” os culpados de tudo são os nordestinos, para os “verdadeiros ingleses” os imigrantes africanos, para os “verdadeiros americanos” os mesmos imigrantes. Pobre África, que convive com a exploração de sua gente em vários níveis e ainda são culpabilizados pelos “demônios interiores” de várias gentes. Para certos setores da sociedade escravocrata brasileira o problema da escravidão não era a asquerosa relação desigual entre “homens e coisas” mas sim os próprios escravizados que com seus costumes “baixos” contaminariam o “nobre país”. Esse mesmo simplismo tacanho que levou o povo alemão a eleger os judeus como culpados de sua desgraça econômica e promover o tão triste holocausto.

Será que as causas de todos os problemas, no mundo todo, que eclodem periodicamente (cada vez mais rápido) são da imigração (e dos imigrantes/pobres)? E as causas da imigração/pobreza? E os valores humanos que vem sendo disseminados? E os interesses políticos e econômicos? Vá subindo a lente da pergunta até chegar a resposta fácil mais completa: #systemfail..

corrida ancestral


 O negro corre desesperadamente pela avenida, corre pela vida. Viscoso sangue brota de seu fronte, mas segue a trilha. Corrida ancestral, milhões de anos a trotar. Seus perseguidores deleitam-se, é o auge da noitada, nem a boa bebida, nem as belas garotas se comparam ao êxtase tribal desse momento, as drogas aqui são uma questão menor, mas é claro fazem parte do ritual. O rosto dormente, o vento, a velocidade, a presa fácil à alvejar.                                   
Na neoplatina os garotos brancos se divertem à moda antiga, a caça ao negro não é um esporte oficial, mas só falta uma lei para isso. Nas noites dos pampas é comum esse tipo de perseguição, alguns pais acham até melhor, afinal, seus filhos liberam sua agressividade nas “mulas”, poupando um pouco a família. Mas esses garotos não têm uma cota de agressividade que se esgota e se renova, cada ato reafirma uma condição, os que não conseguem ser ilustres, famosos e admirados tem que valer sua condição de herdeiros de outra maneira. Aí que entra a caça aos negros. Com o tempo, podia-se ouvir nos Lions locais, “Julinho saiu ao pai, está um tremendo caçador, não é rápido demais, nem passa do ponto no trato com as mulas”, ou ainda, “Célia, meu filho tá seguindo o mau exemplo de Castrinho, tortura aquelas pobres mulas por horas e volta todo sujo pra casa.”
Geraldo tinha conseguido finalmente sair duma fazenda de reabilitação do governo, demonstrou “habilidade cognitiva razoável” segundo o relatório dos médicos. Tinha acabado de chegar a Porto Alegre, encaminhado pelo governo, ganharia uns trocados como gari e poderia gastar o pouco excedente com o que achasse melhor. Estava quase no topo onde um negro poderia estar por ali, só seria melhor se fosse aceito por partido político, condição dada à poucos. Recebeu seu adiantamento e foi tomar uma cerveja, há muito sonhava com esse dia. Quando ia em direção a um abrigo temporário para negros, lá pelas tantas, ouviu os gritos de “ô bebum”, “tu não tem vergonha não?”, “é isso que dá trazer esses pretos pra cá”. O que já era turvo na trôpega visão de Geraldo virou um borrão...ouviu um estrondo e sentiu muito calor nas costas, quando entendeu o que estava acontecendo, correu como na fazenda fazia,  só que aqui era pior ainda, não havia nem a terra como aliada.

arqueologia ano 3000

Para aqueles que não sabem, arqueologia é uma ciência que busca interpretar o passado através dos vestígios materiais das sociedades. Alguns dizem que se a história é cascata a arqueologia é sucata, e, bem...de fato pode-se dizer no mínimo que ela envolve um pouco de projeção, imaginação até.

Ás vezes fico imaginando um futuro maluco onde os humanos do futuro investigam nossa sociedade através dos vestígios materiais. Os lixões seriam sambaquis aos olhos destes? A garrafa de coca-cola seria um item essencial a vida, tendo em vista sua occorrência contínua nos sítios? Seriam os shoppings centers templos sagrados, dedicados a algum "deus primitivo"? E se achassem um cd "junto e misturado" do Latino, quais seriam suas interpretações??

A arqueologia teve, contudo, algumas contribuições interessantes. Pudemos saber que a povoação da américa não se deu (ao menos unicamente não) pela migração do estreito de bering e que o homem americano é mais antigo que se imaginava, pudemos saber também que as culturas indígenas brasileiras são bem mais complexas que os livros didáticos ensinam. Tecnologias, culturas, métodos com similaridades ao chamado método científico e outros também. A co-relação entre as marés e a lua por exemplo, foi descoberta pelos índios brasileiros anteriormente a mesma descoberta de copérnico em terras européias. O nosso passado é cheio de "surpresas" para quem está desinformado e por vezes, tão, tão distante de si mesmo.



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Domingo de sol

O Rio de Janeiro anda passando por tremendas transformações devido aos mega-eventos que lá ocorrerão (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016), o panorama do conflito urbano dessa metrópole é tenso. Muitos conflitos envolvendo a população e o governo, marcado por um projeto excludente,  "Rio for export".
Vendo esse panorama há alguns anos atrás, pensei em uma das apoteoses possíveis diante daquele cenário.Daí veio esse mini-conto.


-Não podia ser melhor, o apocalipse apoteótico. É incrível que tenha demorado tanto tempo...

Num domingo de sol, a onda veio das praias da zona sul em direção aos morros, nada de onda de mar, salgada, para lavar a alma, um banho de mar final, a onda era de negros. Alguns nem tão negros, mas no meio da muvuca nem faz tanta diferença, poderiam até ser brancos.
O ataque tinha alguma logística, um arrastão em direção ao asfalto, mas a grande verdade é que era uma horda, insana, bárbara para alguns. O tipo de coisa que é feita geralmente por quem não pode mais ficar acomodado, o risco da morte é um preço mais barato do que o inferno diário. De qualquer forma lavo as mãos, estava fora da cidade visitando minha vó no interior das minas gerais.
Bom, o massacre foi grande, a polícia tinha se preparado,e os pobres derramaram sangue dos ricos e não tão ricos e até dos pobres, é claro. Naquela situação não importava tanto, era cada um por si e deus contra todos. Depois do banho de sangue generalizado o governo tomou prontas providências. Para atingir a paz desejada foi necessário manter um sistemático programa militar, que executou bem sua tarefa, matou e prendeu quem era necessário,e , obviamente, várias outras pessoas também,mantendo o banho de sangue. Foram anos difíceis para a Guanabara. Como seria melhor um banho de mar, salgado...