terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cosmopolitan

Tem uma moda que eu acho engraçada, na verdade nem é somente moda, nem é de hoje. Mas o que eu tô falando é aquela moda de achar bonito tudo que é de fora do Brasil e o inverso proporcional, achar que tudo que é daqui é ruim. Muitos fatores contribuem a essa situação, fatores históricos, políticos e tecnológicos em especial.

A condição de colônia por tanto tempo criou uma relação servil em relação as metrópoles, de tanto cantarem que éramos feios, burros e desorganizados, aprendemos a acreditar, reforçar e viver tal sentença de vida tão "imutável", um destino imputado por papas e reis e depois reafirmado por cientistas e políticos. O passado escravocrata é parte importante nesse processo também, apesar de tentarem apagar as marcas dessa instituição cruel, esse passado existe e foi fartamente documentado por historiadores. Esses fatores elencados são todos relativos ao passado, ao processo histórico da colonização, pouco pode ser feito em relação a este, a não ser pesquisar os murmúrios apagados da história e dar-lhes voz.

Um dos fatores que, no entanto,  é relativo ao presente e potencialmente transformável, diz respeito a cultura, aos hábitos.

Na década de 70, os roqueiros do Placa Luminosa já advertiam com a música "i can't sing in portuguese" os caminhos que tomavam os hábitos culturais de nossa juventude. A indústria cultural que "educa" nossas mentes há decadas nos cria um laço quase afetivo com a língua e os costumes estadounidenses. Isso inclusive pode (e foi) usado a nosso favor, a antropofagia proposta pelo modernismo brasileiro propõem essa aliança, utilizar a cultura alheia para construir a nossa própria, misturar para conquistar, invertendo o dito militar romano (dividir para conquistar).

Essa estratégia é ousada, não sendo fácil sua execução. Parece que "escolhemos" privilegiar o primeiro passo (absorver a cultura alheia) em detrimento do segundo (construir sua própria cultura). Lembrando também que essa relação não é uma escadinha  evolutiva, e sim, processos paralelos e retro-alimentares, ou seja, em dinâmica contínua.

Existe uma idéia forte de que o sentimento cosmopolita é arrojado e vanguardista.. mas se ele vem separado de uma identidade própria, me soa como uma espécie de cópia pálida, sem "fundo", como as bolsas econômicas lastredas por crédito inexistente. Viver com a cabeça em Paris com a realidade de São Gonçalo, uma existência fantasmagórica. Nada contra o município fluminense nem a favor da cidade das luzes, mas é óbvio que são realidades diferentes. Sei que isso soa anacrônico em tempos globais, mas gosto da idéia de pensar com pés no  chão, e seguir o conselho de Fernando Pessoa, tentando equilibrar eu e o outro, o brasil e o mundo, o real e o abstrato e todas os binarismos que aprendemos a enxergar. O velho poeta português dizia: "Se queres ser universal, canta tua aldeia!".

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